Foram muitas notícias, muita expectativa, muitas emoções: oito meses de pura espera e pouquíssimas (frise 'pouquíssimas') notícias oficiais. O DVD em Angola demorou oito longos meses para ser lançado, o maior período de lançamento que a Calypso já experimentou.
O DVD em Angola, gravado no Festisumbe, em Angola, reuniu milhares de angolanos que foram ao evento prestigiar artistas daquele país, assim como a nossa Banda Calypso. O novo trabalho ao vivo da Calypso chegou às prateleiras sem muito alarde e bem calmo no mês de maio.
Porém, o novo trabalho em que os calypseiros puseram muita fé, muitas expectativas não agradou muito. Podemos afirmar, sem querer desmerecer de forma alguma o trabalho feito por Joelma, Chimbinha e toda a banda, que o DVD em Angola foi um dos trabalhos mais frustrantes do grupo. Além das expectativas, que foram bastante aguçadas por há muito tempo os fãs almejarem um DVD com riquíssimos detalhes e novas experiências (como palco diferente e inovador, repertório mais elaborado), a demora que o trabalho levou para ser lançado só fez aumentar ainda mais a ansiedade dos fãs, que acabaram "caindo do cavalo" ao experimentarem um trabalho gravado oito meses atrás.
O projeto infográfico
A contra-capa, sem dúvida, ficou perfeita. A fonte utilizada ficou condizente com o trabalho e as montagens com vários momentos do show também foram bem escolhidas e posicionadas.
Internamente, mais uma decepção: o folheto do DVD que deveria ser tomado como um projeto internacional traz singelas fotos do trabalho, com toda a ficha técnica e nenhum atrativo a mais, que nos faça realmente se encantar e parar para ler algo. Outra decepção foi o encarte gravado no CD/DVD, no disco: com um fundo amarelo esbravejante, a mídia é uma das mais singelas já feita pela banda, sem nenhuma foto do local da gravação ou até mesmo do público.
O repertório
Confesso que não fiquei admirado com o repertório oficial, sendo que muitas músicas presentes no trabalho já eram facilmente previsíveis de terem entrado no repertório oficial do DVD.
Como já abordamos aqui, a Calypso vem mudando o seu estilo de trabalhar, incorporando músicas agitadas cada vez mais e deixando de lado o estilo 'calipso' que a rendeu o estrelato no Brasil e em alguns países. Antes, músicas como as que abrem o DVD em Angola eram postas em um bloco no meio do DVD e a banda sempre dava as 'boas vindas' do DVD com o ritmo contagiante do verdadeiro calipso. O trio "Meu Encanto", "Homem Perfeito" e "Ardendo de Amor" foram tão trabalhados nos shows pós-gravação do DVD que não era mais surpresa nenhuma que abririam o trabalho e não trariam nada de diferente do que vimos nos shows do grupo.
Porém, de todo o repertório, o fato que mais indignou a nação calypseira foi, primeiramente, a pouca quantidade de faixas e, claro, o inaceitável bloco que finaliza o DVD. Mas, antes de falarmos dele, falemos do bloco pós-introdução do DVD.
Algo que eu acho que a Calypso e a equipe de edição acertou foi fazer os pequenos making-of entre os blocos do DVD. Ficou bem ao estilo de documentário e realmente intercalou legal os blocos do novo trabalho. A única contrariedade quanto a isso é que pensei, ao começar a assistir o primeiro making-of da interseção do primeiro e do segundo blocos, que haveria Joelma e Chimbinha falando da viagem à Angola, da emoção de gravar um DVD naquele país, entre outros. Não. Apenas temos o áudio de músicas da Calypso em estúdio e imagens que ficaram muito restritas, não abragendo quase nada sobre o país e a experiência de, pela primeira vez, gravar um DVD fora do Brasil. Lamentável!
O bloco que posso chamar de "aproveitável" é o segundo. Reuniu as melhores músicas atuais da banda, apesar de contar com três canções antigas e que foram bem colocadas no DVD. "Entre tapas e beijos" não poderia faltar, "Doa em quem doer" foi uma boa escolha vinda do CD volume 16 (apesar de faltar mais músicas dançantes deste trabalho) e "Te Encontrei" (uma das poucas do volume 14/15 que se salvaram).
Em seguida, temos a grande participação do cantor angolano Anselmo Ralph, que com estilo próprio e dono de uma belíssima voz, é convidado por Joelma para cantar ao seu lado a faixa "O Som da África". Graças a Deus, a edição deixou as partes informais, as quais Joelma conversa com o cantor e com o público e ainda o momento em que é presenteada com uma bandeira de Angola. O único problema foi ao final da música, onde Joelma agradece o cantor sem nada nas mãos. Ligeiramente, logo em seguida, Joelma agracia Ralph com uma bandeira do nosso país, fazendo-a aparecer, como diria a própria canção da banda, em um "passe de mágica".
O bloco romântico trouxe algumas supresas, como a inteira versão acústica da música "Meus Medos" (uma das melhores do bloco) e a entrada de "A Cura". Mas, acredito que o destaque deste bloco fica por conta, além de "Meus Medos", da canção "Imagino". A banda soube perfeitamente trabalhar um novo arranjo para uma canção antiga e a entrada da bateria, além dos "gritos" da guitarra de Chimbinha, deram uma nova vida e um longo fôlego à canção, que ficou belíssima. Outra novidade fica por conta da entrada, pela primeira vez em um trabalho oficial da banda, de uma música dançante no bloco romântico - "Ataque de um leão". Isso é muito comum nos atuais shows da banda e foi visto pela primeira vez em um DVD oficial.
O carimbó também teve vez no novo DVD e Joelma fez bonito ao lado dos dançarinos, com a música completamente coreografada e com um visual bastante típico. A última vez que o carimbó esteve presente em um DVD da banda foi na gravação do "Calypso pelo Brasil".
Porém, de todos os blocos nós poderíamos presumir algo, alguma música. Contudo, as maiores expectativas por parte dos fãs estavam no último bloco do DVD, o bloco considerado o desfecho do trabalho e que poderia trazer brilhantismo à apresentação. Mas, parece que existe alguma lei que nas maiores expectativas estão as maiores frustrações. Com um fato inédito na discografia da banda, o último bloco do DVD em Angola traz apenas duas músicas: "Lelezinha" e "Vai Pegar Fogo". A música "Solidão já era", uma das mais esperadas pela maioria dos fãs, não entrou e fez muita falta, mas não tanto pela própria música, mas sim para cobrir a quantidade de faixas que a banda resolveu trabalhar neste bloco. Por que não "Sinônimo de Amor", "Isso não é amor", "SOS", "Brinquedo Velho", ou até mesmo grandes pout-pourris de canções antigas que os angolanos realmente conhecem? Com certeza, eu preferia ver canções como "Acelerou", "A lua me traiu", "Tchau pra você" o último bloco a ver apenas duas canções. Essa, talvez, tenha sido a maior falha do grupo no DVD.
O conjunto do trabalho
Antes que muitos venham falar que não olhamos as dificuldades que o casal enfrentou para levar estrutura e um bom show para os angolanos, nós vimos sim. Realmente, gravar em um país que não lhe dá suporte para tamanho evento é difícil achar uma alternativa cabível.
Porém, cobrar dos responsáveis é um direito e dever nosso. Muitos acreditam que tudo são flores e não podemos reclamar sequer de uma vírgula. Podemos, sim! E devemos! O que seria de uma nação se a população não cobrassse os devidos direitos de seu governante? Da mesma forma funciona o mundo da Banda Calypso, onde Joelma e Chimbinha governam de forma democrática, guiando-se nas decisões escolhidas pelos fãs.
Eu espero que este trabalho, que nem mesmo agradou aos próprios integrantes da banda, venha para que a Calypso aprenda e evolua no próximo trabalho. Não quero, repito, estragar a imagem da banda, porque senão não seria fã e muito menos teríamos este canal de informação da banda. Só quero, assim como muitos, que a banda cresça, evolua e traga aos fãs um produto que realmente valha o preço que pagamos e as ações que muitos tomam. São nas obras da banda que os fãs da banda sentem-se realizados.