O fato é que o DVD "Banda Calypso - 15 anos", como a banda preferiu intitular, é um DVD debutante. Ele chega prometendo uma festa de 15 anos que muitos fãs puderam conferir de perto na gravação de novembro de 2014 direto de Belém, no Pará.
Repertório
Contudo, o DVD de 15 anos trouxe uma divisão aceitável e músicas-surpresas que fizeram dele um trabalho muito bem aceito. Finalmente o grupo voltou a abrir um DVD com faixas em ritmo calipso e isso me deixou bastante animado quando soube da playlist preparada para ele.
É visível que começar o DVD com "Vamos ficar de bem" foi a cartada mais certa de Joelma e Chimbinha nesse trabalho. A música deu certo! E eu me orgulho disso. Não via uma faixa estourar tanto como essa estourou nos últimos trabalhos da banda. E ela brindou os 15 anos logo de cara, em um bloco que a banda acertou de mão cheia, completando com a inesquecível e memorável "Passe de Mágica", a clássica "Dançando Calypso" e a meiga "Meu novo amor".
Uma coisa me preocupava: o fato de terem regravado duas vezes e em momentos totalmente distintos o primeiro bloco. A passagem do dia para a noite, com certeza, viria em alguma parte do show, mas deixo para comentar a edição no item propício.
Após um primeiro bloco que soube mesclar bem o antigo e o novo, deparamo-nos com um meio bloco de 3 músicas dançantes, que poderiam ter sido encaixadas em outro momento ou até mesmo ter formado um bloco com mais músicas. "Vibrações" e "Na batidinha da Calypso" vieram como as novidades em meio a "Vem Balançar", canção que, mesmo sem ser muito fã, ficou legal no contexto e agradou a muitos fãs, que há muito pediam a canção em um DVD da banda. Pedido ouvido!
Em seguida, lidamos com o bloco romântico que, para mim, foi uma das maiores surpresas dentre as músicas escolhidas para se brindar os 15 anos da banda. Na verdade, a sensação que eu tenho é que o DVD foi produzido com o intuito de se comemorar 15 anos, mas que a festa ainda tinha sido muito maior quando a banda completou 10 anos. O bloco romântico comprova isso. Iniciando com um pout-pourri que poderia ter vindo no meio do bloco ou até mesmo no final, eu senti em meio a uma confusão de faixas. Joelma não se posicionou favoravelmente no palco durante a execução de "Fórmula Mágica / Dois Corações" e deixou espaços ilegíveis enquanto não tirava os olhos da TV.
Isso, na verdade, deu-se por conta do posicionamento das câmeras para o palco. Não havia câmeras instaladas nas passarelas laterais e isso prejudicou bastante algumas captações da imagem do show. Assim sendo, Joelma aparece com um lindo vestido vermelho de calda preta em "Fórmula Mágica" e enquanto retorna para o centro do palco, por falta de câmeras bem instaladas, retira a calda sem ao menos presenciarmos a cena de maneira adequada em "Dois Corações". E ela atrasa a retirada do vestido.
"A saudade bateu" é uma das minhas queridinhas, mas Joelma novamente fica em um posicionamento ruim durante sua execução e é visível a chatiação de Chimbinha com o fato de a loira passar toda a música em uma das passarelas laterais do palco. Sim: ele vai até lá buscá-la, num rosto nítido de descontentamento.
Outra surpresa fica por conta de "Doce Mel". Acho que todos nós concordamos que essa daí é uma das faixas polêmicas que divide literalmente a opinião dos calypseiros. Assim como "Objeto de desejo", a faixa é desnecessária. Muitas outras poderiam ter sido trabalhadas ou até mesmo vindas em outros pout-pourris. Acredito que para trabalhos que exigem um resgate da história da banda, os pout-pourris vêm a acalhar muito bem, assim como a banda fez no DVD de 10 anos. Obviamente, se não queriam uma proporção como daquele DVD, poderiam ter trabalhado com, no máximo, uns três pout-pourris. Acredito que muitas outras músicas românticas poderiam ter sido trabalhadas e dariam uma carinha melhor a esse bloco romântico.
"Como eu te amei", "Minha vida não é vida sem você" e o pout-pourri "Unção sem limites / Buscar Tua face é preciso", para mim, aliviam certa bagunça do bloco. A participação da Calcinha Preta foi muito positiva (apesar de erros de edição, a serem comentados posteriormente), assim como a belíssima canção com o Daniel. A participação de Ludmila Ferber, no entato, é arrebatadora. A escolha dessas canções foi um grande acerto realizado pelo grupo e sua execução foi muito bem elaborada, com um arranjo incrível e que garante um dos ápices mais emocionantes do DVD.
Acertaram em cheio! "Gritar de amor" foi um resgate muito bem feito porque há tempos os fãs pediam para a banda trabalhar essa música, e a trouxeram do fundo do baú. O mesmo se aplica à "Esperando por você", uma das melhores músicas dançantes da história da banda. "Chama Guerreira", por sua vez, brinda uma homenagem ao Amazonas com a participação de Edilson Santana e David Assayag.
Com mais um trio de faixas, Joelma traz o carimbó para o corpo e Chimbinha, para a guitarra. A faixa "Lero Lero", até então desconhecida pela maioria do público da Calypso, tornou-se uma das queridinhas dos fãs. E confesso: ela é ótima. Abriu bem um bloco destinado ao carimbó, algo inédito na história dos DVDs do grupo. Pela primeira vez pudemos contar com um bloco de carimbó de músicas diferenciadas. Claro, se relembrarmos o DVD de Manaus vamos ver um pout-pourri com 3 faixas, mas desta vez elas foram consagradas com maior tempo e dedicação. Destaquemos a participação da carismática Lia Sophia, que trouxe músicas próprias para dividir o microfone e a dança com Joelma. Além disso, para fechar o bloco, Chimbinha convida os mestres da guitarrada em um pout-pourri regional somente instrumental. Homenagens devidamente bem merecidas!
Engano total. Devo confessar que aplaudo de pé a escolha das faixas que a banda realizou para homenagear o ritmo calipso, trazendo músicas belíssimas. Vou repetir porque preciso repetir: belíssimas. Joelma e Chimbinha arrebentaram quando trouxeram "Por não ter o seu olhar", "Agora eu não sei" e "Não me deixe só" encabeçando as primeiras músicas desse bloco que homenageia e conta a história do ritmo "que deu nome a esta banda", como profana Joelma antes de dar início ao bloco. Devo admitir que queimei a língua. Ou pelo menos o pensamento. "Não me deixe só", para mim, é o grande ápice do bloco e a mais bela canção que o casal trouxe para o DVD, que me surpreendeu bastante. Completando o bloco, trouxeram "A Cura", "Gererê" e "Vem meu amor (Xa Na Na)", todas, exceto "Por não ter o seu olhar", com participações especiais.
Para finalizar o DVD, a sensação que tive na composição dessa última parte foi que precisavam correr para terminar e aí a banda elabora dois pout-pourris de músicas grandiosas, mas sem a devida atenção dada: o resgate de "Beija flor" e "Gringo lindo" foi mais uma carta de sucesso, além de "Vendaval" que dispensa comentários. A surpresa fica por conta de "Se Quebrou", que termina o show com os famosos agradecimentos de Joelma.
Em suma, o repertório foi muito bem elaborado. O DVD não decepciona nesse quesito. Pelo contrário: se sai muito bem. Com certeza, foi um repertório que soube bem mostrar as variedades dos ritmos que a Calypso toca e focou principalmente no ritmo mais contagiante que a banda tem a oferecer, o calipso. Com certeza, nesse ponto, o DVD é um dos melhores dos últimos trabalhos realizados pelo grupo.
Estrutura e cenário
Marcado pelo relógio, o palco traz como plano de fundo o lindo rio e a paisagem natural do litoral paraense. A estrutura do palco, que se pensava ser em 360º, na verdade abria-se em três passarelas, sendo uma central e as outras duas laterais. A cenografia de Zé Carratu procurou retratar elementos da cultura regional e, para isso, encheu o palco com artigos que lembram o regionalismo, como os vasos de barro espalhados pelo cenário. Duas piscinas laterais destacam a cultura pesqueira da região e suas populações ribeirinhas. Um encanto!
Apesar de todo esse aparato, confesso que o palco é confuso. E ficou ainda mais confuso na organização do público e sua disposição pelas beiras do palco. As duas passarelas laterais não ficaram boas, porque distanciaram o público delas de Joelma (que foi muito pouco para lá) e estavam escondidas por entre as piscinas colocadas na frente do palco. Uma possível melhora teria sido trazer as passarelas laterais na diagonal do palco, na frente, e deixar as piscinas nas laterais ao fundo, possibilitando Joelma ser vista melhor por quem estava nas laterais e uma melhor captura de imagem.
Além disso, os elementos no palco, devido à grande quantidade, deixaram uma imagem um tanto poluída, onde nos perdemos no olhar e não conseguimos uma boa assimilação do conteúdo. A iluminação, no entanto, não é deficitária, apesar de que quando anoitece percebemos muito pouco do que tem atrás, principalmente a banda, que se torna escondida na escuridão. No entanto, com certeza foi o palco mais lindo e bem elaborado que já pudemos ver em um trabalho da Banda Calypso.
Edição
É claro e evidente que todo trabalho, de qualquer artista, passa por edições. A edição de voz é unânime. Nesse trabalho, a edição de voz foi bem superior aos últimos DVDs da banda, porque finalmente deram mais eco à voz de Joelma e deram voz ao público, coisa que não ouvimos no DVD de Ceilândia ou ouvimos totalmente superficial no DVD em Angola.
Contudo, devo confessar que ainda sinto saudades da voz de Joelma editada como no DVD de 10 anos, em que ouvíamos um aspecto bem ao vivo, de microfone, de natural. Apesar disso, a voz de Joelma foi bem editada no DVD, não passando despercebidos alguns erros. Devo aplaudir também a edição que finalmente deixou Joelma falar entre a passagem dos blocos, coisa que não víamos há muito. Relembro que a última vez que, de fato, ouvimos Joelma falar com o público no DVD foi no de Manaus
Nas imagens, a questão é um pouco diferente. A bela história profissional de Caco Souza trouxe imagens diferenciadas ao DVD. A forma de filmar é diferente de tudo que vimos em trabalhos anteriores da banda, com imagens mais fluidas, mais livres, câmeras a balançar, além de captações mais aproximadas de Joelma e Chimbinha, além de ângulos mais orgânicos e menos engessados. O trabalho é de aplaudir de pé. As imagens captadas através dos dronnes, aqueles pequenos objetos voadores, deram um grande destaque no trabalho e enriqueceram ainda mais o entendimento do show.
Contudo, não podemos deixar de frisar erros banais em edição de vídeo. Por conta dos fãs que pisotearam parte do cabeamento de imagens no início do show, regravaram todo o primeiro bloco e isso fez com que a edição tivesse mais trabalho para cortar imagens do show que começou à tarde e entrou pela noite. A cartada foi pegar a batida da bateria e mesclar com a imagem na transição entre "Dançando Calypso" e "Meu novo amor". Poderia ter sido natural, mas infelizmente este ocorrido fez com que a edição precisasse entrar em ação.
Alguns pequenos truques que poderiam ter sido mascarados pela edição, não foram. A banda sempre usou imagens aéreas, mas desta vez pegaram no momento certo da música em questão. Nos trabalhos anteriores, a Calypso abusava de imagens aéreas desconexas à faixa que estava tocando realmente na hora do show. Desta vez, pelo menos, usaram imagens aéreas corretas. Exceto em alguns momentos, como na participação da Calcinha Preta, em que usam imagens aéreas de um momento diferente da música e fica totalmente perceptível. Ou quando Joelma grita "vai" em algumas músicas e a edição mostra claramente que esqueceram de remixar a parte.
Como já falei anteriormente, a ausência de câmeras laterais prejudicou bastante as passagens em que Joelma se dirige para tal área do palco, fazendo o foco ir para outras áreas do show. O menu do DVD é uma edição que também decepciona. Faltou mais glamour, mas reflete o mesmo trabalho realizado na capa e na contra-capa. Falando em glamour, seria bom termos explicações de o porquê das imagens do DVD não ser em HD, o que atrapalhou e decepcionou bastante quando o assisti. Muitas partes trazem imagem ruim e que poderiam ter sido muito melhores se o DVD tivesse saído em HD e até mesmo em Blu-ray.
Com relação aos extras, esperava-se bem mais do making-of, que se resumiu a imagens rápidas da coletiva de imprensa com os fãs, da montagem do palco e pequenos trechos de entrevistas com as participações especiais do DVD. Esperava depoimentos de Joelma e Chimbinha falando de todo o preparo do DVD, ensaios, processo de criação e muito mais. Além do making-of, os extras trazem o flashmob com os fãs na Praça do Relógio, em Belém, da música "Na batidinha da Calypso".
Figurinos
Abusando dos babados, Joelma utilizou em tons pastéis um figurino de renda no primeiro bloco que já lembra as regionalidades do local escolhido para a gravação do DVD. Para ressaltar as curvas e a boa forma da loira, além de chamar atenção para o quente do bloco, a loira abusou de um macacão dourado com toques em preto no segundo bloco. No romântico, a loira trouxe novamente a retirada de peças com um vestido vermelho de calda preta, desmontável a um vestido curto prateado. O cabelo, no entanto, foi repetido do último DVD e poderia ter sido inovado neste. Ainda acredito que Joelma não precisa de megahair para cantar o romântico, podendo deixar o cabelo mais natural ou apenas com um jeito mais formal.
Para homenagear o Norte, a loira trouxe um outro figurino de babados, desta vez ainda mais característico da região, com tom verde, araras bordadas e ombreiras espetantes. No carimbó, um lindo vestido branco com bordados coloridos de flores deixaram a loira ainda mais um encanto, assim como o figurino dos dançarinos na abertura do show. Para terminar o show, mais um figurino com babados, menores desta vez, em tons que brilhavam no escuro, em tons azuis.
O figurino agradou bastante e fizeram disso um show a parte no trabalho da banda.
Projeto infográfico
Conclusões e notas finais
Este é um DVD que veremos muitas vezes e terá sua imagem muito mais marcada do que os anteriores. Confesso que só assisti a uma vez os DVDs em Angola e no Distrito Federal, porque não sinto saudades dos mesmos. De uma vez ou outra, escuto-os. Contudo, o DVD de 15 anos tem aquela chama, né? Ele sempre faz com que o escutemos, diariamente. Em uma semana, já o vi mais que todo esse tempo dos DVDs anteriores.
A carreira da banda já estava precisando de um trabalho tão bem feito e bem produzido como esse. Há muito eu torcia por isso, pelo retorno às origens, pelo calipso dominando novamente o ritmo que leva seu nome até mesmo no cerne da banda. Parabéns a todos os envolvidos nesse trabalho que, merecidamente, marca a história da banda.
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